A covid-19 chegou e tirou tudo do lugar; diante de tantas mudanças, educadores precisaram se reinventar e fazer de cada dificuldade um degrau que os aproximasse dos alunos
Em poucos meses, a pandemia mostrou o quanto algumas habilidades se tornaram fundamentais: colaboração, adaptabilidade, comunicação, resiliência e empatia são algumas das aptidões que não podem faltar neste momento inusitado de novas demandas técnicas e emocionais. Embora o vírus tenha forçado o distanciamento social, por outro lado, estreitou os laços através das conexões remotas. Ferramentas tecnológicas disponíveis há muito tempo ganharam maior visibilidade e passaram a ser utilizadas, inclusive no meio educacional, para criar conteúdo e experiências de aprendizado online para os alunos.
No início, tanta novidade e necessidade de continuar ensinando (e também aprendendo) assustou muitos educadores. Passados seis meses da mudança repentina do formato de trabalho, para grande parte dos professores, as novas possibilidades de ensinar acabaram se tornando mais amigas do que rivais. Tudo indica que o avanço, principalmente no que se refere ao uso dessas tecnologias, permanecerá depois da pandemia.
Para partilhar como tem sido a prática do dia a dia, desde que as aulas deixaram de acontecer no espaço físico da escola, O Peixinho entrevistou a professora Dayanne Beilfuss, que faz parte do aquário há quase 17 anos.
A pandemia chegou e mudou a dinâmica de tudo. O que você mais sentiu com essa transformação? Quais foram os medos, dificuldades e necessidades no início das aulas remotas?
Quem conhece a nossa escola sabe da importância que tem para nós essa relação de amor e carinho, que vai além do processo de aprendizagem, aliás, esse é o lema d’O Peixinho: ‘uma escola do coração’, que se preocupa muito com os alunos. A pandemia chegou e trouxe esse desafio de ensinar a distância. Fomos pegos de surpresa por algo que, no início, não nos pareceu que duraria tanto tempo, e hoje já são seis meses dessa nova rotina, desse novo formato de aula.
Nossa preocupação foi muito além dos conteúdos, pensamos em como tornar as aulas diárias mais agradáveis para as nossas crianças. São tantos anos de experiência, mas em toda a minha vida jamais imaginei passar por isso. Senti medo, sim, e muito, porém, o meu amor e a dedicação por minha profissão me fizeram buscar conhecimento e ferramentas para cumprir da melhor forma possível o meu papel de educadora.
Após esses seis meses de novo formato de ensino-aprendizagem, você percebe que você e os alunos estão mais adaptados e que é possível, sim, ensinar com uma telinha dividindo vocês, ainda que o ensino presencial seja indispensável, especialmente para crianças?
Meus alunos me surpreenderam, me emocionaram muitas vezes, em diversas situações. Para mim, cada palavra ou gesto deles servia, e ainda serve, como força diária para não desistir. Eles me mostram que juntos somos capazes.
Nada substitui o ensino presencial, o contato diário, o olho no olho, um abraço. No entanto, apesar de tanta mudança, tantos desafios, falo com muita certeza que sim, os nossos alunos estão se esforçando e é possível ensinar divididos por uma telinha, desde que façamos tudo com amor.
Como professora, quais são os pontos positivos que você vê neste tempo de isolamento? O que aprendeu com tudo isso (tanto na prática educacional como com tecnologias)?
O isolamento social mudou toda a rotina de repente. Aprendi desde criança que diante de todas as situações pelas quais passamos devemos pensar e encontrar motivos para entender o porquê. O ensino a distância me fez repensar minha prática pedagógica, coisas que talvez nunca tivesse tentado fazer, com medo de achar que poderia não dar certo.
A internet, que as crianças já utilizavam e, portanto, era algo que fazia parte do dia a dia delas em casa ou na escola (para se divertir com o jogo preferido ou para aprender algum conteúdo) tornou-se uma ferramenta essencial. Isso é algo que sempre falo com meus alunos: se hoje temos a oportunidade de nos vermos todos os dias, de termos aula, mesmo a distância, é graças à tecnologia. Com toda certeza, jamais será possível substituir o ensino presencial, mas podemos pensar, sim, em agregar outras formas de aprendizagem.
Novas maneiras de conviver e de aprender
Com base em sua experiência de cinco décadas à frente d’O Peixinho, a diretora Márcia Zoéga de Carvalho faz uma leitura dos últimos seis meses com lentes de quem sempre esteve aberta à aquisição de conhecimento. “Depois de tantos anos ligada à escola, trabalhando com crianças, eu percebo que na vida temos que estar sempre prontos a aprender e aceitar os desafios para crescer. O importante é sempre ser grato por tantos aspectos positivos e não ficar com foco nas dificuldades”, comenta.
Embora reconheça os inúmeros prejuízos que a pandemia trouxe, salienta que também há pontos positivos que merecem ser observados: “Tivemos um salto na atualização da linguagem da tecnologia, tão relevante para as crianças e para os jovens. Além disso, as famílias entenderam a importância da escola e do bom professor. Nós entendemos como é importante o papel da família, descobrimos novas maneiras de conviver e de aprender”.
Segundo Tia Márcia, se por um lado o momento não é adequado para reuniões, festas e comemorações, por outro é propício para ensinar as crianças e os jovens a agradecerem por terem um lar confortável, alimento, saúde, família. “Ensinar a ser grato é um fator de extrema importância na educação, portanto, deixemos de lado as reclamações e vamos focar naquilo que compreendemos ser bom para todo mundo”, completa.
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